A PEQUENA FADINHA

 

Pequena fadinha

A pequena fadinha tinha asas prateadas e o cabelo tão negro como a macia asa de um corvo. Morava dentro de um livro de histórias e apenas de lá saía quando alguém o folheava. Nessas alturas, voava feliz, espalhando magia sempre que agitava a sua varinha minúscula.

Um dia, porém, o livro foi atirado para o chão de um sótão escuro e aí ficou longo tempo, coberto de pó e de esquecimento. A fadinha, abandonada, encolheu-se em silêncio, sonhando e esperando.

Muitos dias mais tarde, uma menina de olhos grandes, luminosos, brilhantes como sorrisos, encontrou o livro velho. Pegou nele, abriu-o, começou a lê-lo, detendo-se em cada página, assim libertando a fadinha.

Esta, trémula de alegria, rodopiou pelo ar até ficar tonta. Sentou-se, depois, no ombro da sua nova amiga, murmurando-lhe segredos ao ouvido. Isso uniu-as. Voaram juntas. Sonharam juntas. E nunca mais se separaram.

Joana Marques de Almeida

 

 

 

Bal e as estrelas

Era uma vez um dragão menino chamado Bal que vivia numa montanha muito alta e muito verde onde havia sempre nevoeiro. Neve é que era raro, só mesmo nos meses mais frios, e mesmo assim nem todos, às vezes fazia só muito vento ou chovia e então a neve nem podia cair porque havia o perigo de derreter.

Mas o que ele adorava mesmo era aquele tempo que deixava gelo pendurado nas árvores, nos muros, nas rochas por onde a água costumava deslizar, até nas flores e nas ervinhas. Quando chegavam esses dias, o Bal só queria andar na rua, nem sentia o frio com o entusiasmo!

É que tinha sempre a esperança de encontrar aquela coisa que fazia mesmo o coração rebentar, o brilho que lhe trazia lágrimas aos olhos sem saber porquê, sem se sentir nada nada triste, pelo contrário, era mesmo uma grande alegria que lhe aquecia o corpo todo quando… via uma estrela de gelo!

Mas ficava tão contente, tão contente, que não conseguia conter um sorriso grande e muito quente, mesmo muito quente, com chamas e tudo, que derretiam qualquer estrela num abrir e fechar de olhos! E então ele ficava triste, tão triste que só tinha vontade de chorar ao colo da mãe.

Pois. O Bal, como todos os dragões, tinha o poder do fogo. E em vez de o usar em lutas contra inimigos que não tinha, porque era um dragãozinho muito bem disposto de quem todos gostavam, costumava brincar com as chamas para divertir os amigos ou aquecer o almoço. É verdade que os pais já lhe tinham dito muitas vezes que não devia brincar com o fogo, que o guardasse para quando fosse mesmo preciso, mas ele era criança e não lhes dava sempre ouvidos.

Agora, que o queria mesmo guardar, não conseguia nem por nada!

Foram tempos difíceis para o pequeno Bal. Muitas vezes passeava pela montanha com uma lágrima a crescer no olho enorme, porque sabia que se tivesse a sorte de encontrar a adorada estrela de gelo não iria conseguir evitar um sorriso daqueles e com certeza acabaria por destruí-la com a sua alegria.

Certo dia distraiu-se, com a atenção enrolada em pensamentos todos feitos de fogo e estrelas, nem se lembrou do jantar porque a tristeza lhe tirava a fome, e quando reparou já era de noite. Olhou à volta e apercebeu-se de que nunca tinha visto a montanha assim no escuro. Depois olhou para cima, onde luzia uma linda meia lua e, quando ia mesmo a virar os olhos para o chão, alguma coisa pareceu mexer-se no céu. Então, com a cara bem voltada para cima, abriu muito os olhos e viu: um brilho de estrela tão lindo como se fosse de gelo.

Havia muitas, muitas estrelas, no mesmo céu que afinal já tinha visto tantas vezes! Como é que não tinha sido capaz de reconhecer aquele brilho? Era o mesmo, a mesma alegria lhe inundava o coração, e quanto mais as olhava mais as estrelas cintilavam e exibiam a sua beleza, contentes por serem observadas assim. Então sorriu e deixou o fogo sair bem alto, quase até ao céu.

Depois correu para casa porque os pais não gostavam que voltasse tão tarde! Quando chegou, o pai fez uma cara zangada mas a mãe abraçou-o muito e quase chorava de preocupação. Quando olhou muito sério para ela nem queria acreditar: lá estava o mesmo brilho, em pequenas estrelas cintilantes que lhe dançavam nos olhos! Beijou-os muito, com cuidado para não saírem chamas, e adormeceu feliz.

No dia seguinte, por qualquer motivo brilharam de orgulho os olhos do pai, e numa poça de água cintilavam mais estrelas, até nas gotas que ficam nas flores depois de chover se viam rodopiar pontinhos de luz. Então, quando voltou a encontrar uma estrela de gelo, ficou muito contente mas sorriu calmamente, já sem chamas nem fogo, com muita alegria pela beleza do mundo.

Julieta Andrade